Hoje recebi uma mensagem bem interessante perguntando sobre o que tenho feito em relação ao processamento do DHBB. Resolvi aproveitar para escrever este post.
Na lista das minhas publicações, interessados podem consultar todos os artigos que escrevemos sobre trabalhos com o DHBB. Ao longo dos anos, fizemos diferentes experimentos ‘exploratórios’ no DHBB, alguns com objetivo, não de processar o DHBB, mas de usa-lo para expandir recursos que precisávamos criar para o processamento de textos em PT, além mesmo do DHBB.
Recentemente, agora sim ja tendo recursos para tal, pudemos começar a pensar no processamento do DHBB propriamente dito. Mas os recursos necessários ainda estão longe de completos ou com tamanho adequado para garantir boa qualidade, logo penso no processamento do DHBB como um projeto de longo prazo que passará por refinamentos sucessivos. Quando digo recursos, falo de coisas como:
No artigo do último PROPOR, mostramos que mesmo a segmentação de sentenças não é trivial e que certamente vários erros de análise sintática (usamos o UDPipe) existem dado o reduzido tamanho do corpus Bosque e diferenças entre o estilo textual do corpus Bosque (jornalístico) para o DHBB (enciclopédico). O que estamos fazendo é criar um workflow que permita o trabalho de longo prazo onde revisões humanas sejam integradas em ciclos de treino e avaliação dos diferentes componentes que estamos usando. Eu poderia falar muito mais sobre as dificuldades reais na segmentação de sentenças, mas vou deixar isso para outros posts.
Para a segmentação de sentenças, temos tido melhores resultados com o OpenNLP, que comparamos com outras ferramentas no paper mencionado acima, dentre elas o Freeling, que encontramos muitas limitações de configuração (abreviações no final de sentenças são um problema sem solução para o Freeling). Mas aprendemos que o modelo de segmentação disponibilizado em também erra várias sentenças do DHBB. Com isso, retreinamos o OpenNLP com um subconjunto de sentenças do DHBB segmentadas manualmente. Ainda estamos investigando alternativa ao OpenNLP, talvez o próprio UDPipe ou NLTK, este issue trata deste assunto. Não sou muito fã de Python, mas começamos a testar o NLTK principalmente por causa do modulo de segmentação de sentenças que implementa o algoritmo Punkt, especialmente util para lidar com abreviações.
Falando da análise sintática. Treinamos o UDPipe com o corpus UD_Portuguese-Bosque, que estamos ainda constantemente revisando, expandido com as sentenças do DHBB analisadas que já revisamos. Com este modelo, aplicamos no restante do DHBB e repetimos o ciclo. Nas últimas semanas, focamos nas sentenças dos primeiros parágrafos dos verbetes, temos atualmente umas 200-300 sentenças revisadas. Estas sentenças, quando adicionadas ao Bosque, conseguiram ‘ensinar’ o UDPipe a análise dos primeiros parágrafos dos verbetes (os parágrafos que falam sobre relações familiares).
Em paralelo ao nosso trabalho, Diana e Suemi incluiram o DHBB no acervo da Linguateca, seguindo os métodos de processamento dos textos que a Linguateca adota. Eu não estou mais participando diretamente deste esforço embora tenha colaborado em um artigo do ano passado. Para mim, a principal limitação da abordagem da Linguateca são as ferramentas adotadas. Algumas proprietárias, como o parser PALAVRAS que produzem analises pouco ’standard’ e consequentemente de difícil integração com outras ferramentas. Por isso prefiro outras abordagens.
Quanto a colaboração com interessados. Uma coisa que precisamos muito é UI. Nosso ciclo de revisão e treino com human-in-the-loop precisa evoluir para que os usuários possam fazer revisões em interfaces mais visuais sem lidar com arquivos. Isto permitiria maior agilidade em cada ciclo de revisão. Na parte mais de NLP, ter a análise sintática é apenas uma etapa para extração de informações. Precisamos de muitas outras ‘camadas’ de anotação como SRL, NER, expressões temporais etc. E talvez continuar combinando técnicas. Por exemplo, para reconhecimento de entidades nomeadas, temos um modelo treinado no IBM Watson Knowledge Studio (WKS). Nosso demo ainda está super básico e também precisa evoluir. Mas o modelo treinado no WKS ainda precisa ser melhorado e ainda precisamos pensar como integrar as anotações do WKS com estes processamentos mais ‘linguisticos’ que estamos fazendo agora. Enfim, muita coisa para fazer.
Com sorte, o que está sendo feito pode ser útil para processamento de outros textos no futuro, além do DHBB, como wikipedia.
São vários colaboradores participando deste projeto, em diferentes momentos e de diferentes formas. Em especial, não posso deixar de mencionar a Valeria de Paiva, amiga que me introduziu na área de linguistica computacional e me apresentou tantas pessoas ao longo destes anos.